segunda-feira, 30 de agosto de 2010

No séc. XXI tal como no séc. XIX


“Decerto tinha tido amantes, mas o conhecimento dos homens tornava o seu amor mais apreciado. É tão fácil agradar a uma pobre burguesa que não vê senão as chinelas do marido e a rabugice dos filhos; é tão fácil seduzir uma rapariga de dezoito anos, ainda com as imaginações do colégio e as ambições de maternidade que lhe deu a boneca! Mas uma mulher que conhece os homens tão profundamente, a quem as desilusões repetidas deram cepticismos, a quem o atrito das sensações trouxe a inércia da saciedade… uma mulher assim, que glória interessá-la. É o mesmo prazer áspero que se deve sentir em tornar católico um ateu.”
Eça de Queirós, in A Tragédia da Rua das Flores

sábado, 28 de agosto de 2010

"A Conquista da Felicidade", parte 2.2 (O gosto de viver)


“O apetite está para a comida como o entusiasmo está para a vida.”

“Quanto mais objectos de interesse um homem tem, mais ocasiões tem também de ser feliz e menos está à mercê do destino, pois se perder um pode recorrer logo a outro. A vida é demasiado curta para nos permitir interessarmo-nos por todas as coisas, mas é bom que nos interessemos por tantas quantas forem necessárias para preencher os nossos dias.”

“O espírito é uma máquina estranha que pode realizar as combinações mais extraordinárias com os materiais que lhe são oferecidos, mas sem esses materiais do mundo exterior é impotente. (…) Por isso, o homem cuja atenção se desvia para dentro de si nada encontra digno de observação, ao passo que o homem atento a tudo o que o rodeia pode encontrar em si próprio, nos raros momentos que contempla a sua alma, um conjunto de elementos, os mais variados e interessantes, para serem examinados e reunidos em motivos belos ou instrutivos.”

“Em todas estas situações diferentes, o homem com gosto pela vida tem vantagens sobre aquele que não o tem. Sabe mesmo tirar proveito das experiências desagradáveis.”

Entre as mulheres, menos hoje do que antigamente, mas ainda em larga medida, o gosto pela vida é em grande parte diminuído por uma errada concepção da respeitabilidade. Considera-se inconveniente eu as mulheres manifestem grande interesse pelos homens, ou que dêem provas de demasiada vivacidade em público. Ao aprenderem a não se interessar pelos homens, aprendem também, com frequência, a não se interessar por coisa nenhuma a não ser por certa forma de procedimento correcto. Adoptar uma atitude de inactividade e de receio em relação à vida é adoptar claramente uma atitude contrária ao gosto de viver e encorajar o interesse pela sua própria pessoa, tão característico nas mulheres altamente respeitáveis, especialmente, quando são pouco cultas. Não se interessam pelos desportos como os homens, nem fazem caso da política; em relação ao sexo masculino, a sua atitude é de reserva afectada, e em relação às outras mulheres, de surda hostilidade, baseada na convicção de que todas são menos respeitáveis do que elas.”

Para a mulher, como para o homem, o gosto de viver é o segredo da felicidade e do bem estar.”
Bertrand Russel

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Little Loved One


By showing your sweet nature, and sharing the gifts of your spirit, you bring joy and love to the lives of many.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Uma dia alguém falou-me de amarras...


...inconscientemente eram estas as amarras que desconhecia prendê-lo.


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terça-feira, 24 de agosto de 2010

Emotional Rescue


“A paixão era a maior desgraça para o homem inteligente. Um artista que se apaixona está perdido; o amor introduzia-lhe na vida uma tal quantidade de cuidados, de preocupações, de renúncias, que todo o trabalho, todo o pensamento se torna impossível. Vem o ciúme, a exaltação fictícia, a renovação incessante do desejo, a preguiça de languidez, as subserviências da criatura; o carácter efemina-se, o cérebro amolece, a concepção retrai-se e o que era ontem uma força na sociedade é hoje um clube de bordel. O artista deve eximir-se do amor, como o mais humilhante tirano. Amar uma mulher é pôr todas as suas forças da vida ao serviço… de um órgão! É como um glutão: como o glutão, não pensa, não vive, não trabalha, não se move, senão para o estômago. O amante não existe senão para servir, obedecer ao coração, para lhe dar um nome decente. Eu dei aos artistas do meu tempo uma grande lição. Suprimi o amor. Desta porta para dentro, nunca entrou uma mulher; uma mulher, isto é, um conjunto de caprichos, de fantasias, de nervos, de sensibilidades, de tiranias, de altercações, de volubilidades. Mas, como a Natureza é exigente, e o cérebro precisa estar desembaraçado, tomei uma fêmea.”

Eça de Queirós, in A Tragédia da Rua das Flores

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

terça-feira, 17 de agosto de 2010

sábado, 14 de agosto de 2010

"A Conquista da Felicidade", parte 2.1 (A Felicidade é ainda possível?)


“Suponho que essas duas formas [de felicidade] podem classificar-se de simples e ideal, animal e espiritual, emocional e intelectual. (…) Talvez a forma mais simples de descrever a diferença entre essas duas espécies de felicidade seja dizer que uma é acessível a qualquer ser humano e a outra apenas àqueles que sabem ler e escrever.”

“O prazer da realização requer dificuldade tais que antecipadamente o triunfo seja considerado duvidoso, embora acabe, em geral, por ser um facto. Essa é talvez a razão principal porque um apreço, que não seja excessivo, dos próprios méritos é necessário à felicidade. O homem que se deprecia fica sempre surpreendido com os seus triunfos, enquanto o homem que tem em si confiança excessiva fica frequentemente surpreendidos com os seus malogros. A primeira surpresa é agradável, a segunda não é. Por isso a prudência aconselha que não se seja demasiado modesto nem demasiado vaidoso.”

“Todas as condições da felicidade estão realizadas na vida do homem da ciência. Tem uma actividade que lhe permite utilizar plenamente todas as suas capacidades e alcança resultados considerados importantes não somente por si, mas também pelo público em geral, ainda quando este não os possa apreciar devidamente. Neste ponto é mais afortunado do que o artista. Quando o público não compreende um quadro ou um poema, conclui que é um mau quadro ou um mau poema. Mas quando não pode compreender a teoria da relatividade conclui, com razão, que a sua cultura é insuficiente. Por isso Einstein é admirado enquanto os melhores pintores morrem de fome nas mansardas e Einstein é feliz enquanto os pintores são infelizes.”

“O cinismo, tão frequente no Ocidente, entre os jovens mais cultos de ambos os sexos, resulta da combinação do conforto e da impotência. A impotência dá às pessoas a impressão de que nada vale a pena ser feito e o conforto torna insuportável esse sentimento doloroso. Em qualquer universidade do oriente, o estudante pode esperar ter maior influência na opinião pública do que nos países ocidentais modernos, mas tem muito menos oportunidades do que no Ocidente de alcançar um rendimento substancial. Com o poder de agir mas sem conforto material, torna-se um reformador ou um revolucionário, nunca num cínico. A felicidade do reformador ou do revolucionário depende da evolução dos negócios públicos, mas possivelmente, mesmo quando é executado, goza duma felicidade mais real do que a do cínico que vive confortavelmente.”

“As tolices e as manias são, no entanto, em muitos casos, talvez na maior parte, não uma fonte de felicidade fundamental, mas um meio de fugir à realidade, de esquecer por um momento alguma dor demasiado difícil de ser suportada. A felicidade fundamental depende mais do que qualquer outra coisa do que se pode chamar um interesse amistoso pelas pessoas e pelas coisas.”
Bertrand Russel

terça-feira, 10 de agosto de 2010

"A Conquista da Felicidade", parte 1.9 (O Medo da Opinião Pública)


“Quase toda a gente, para ser feliz, tem necessidade dum ambiente simpático. Para a maioria dos homens, naturalmente, o ambiente em que o acaso os colocou é simpático. Impregnaram-se de preconceitos na juventude e instintivamente adaptaram-se às crenças e costumes que encontraram em sua volta. Mas para uma grande minoria, que praticamente inclui todos os que têm algum mérito intelectual ou artístico, essa atitude de submissão é impossível.”

“para a maioria dos jovens excepcionalmente dotados, a adolescência é um período de extrema infelicidade. Para os seus camaradas mais vulgares pode ser uma época de alegria e de prazer, mas eles precisam qualquer coisa de mais sério que não encontram nos mais velhos, nem nos da mesma idade, no meio social em que o acaso os fez nascer.”

se o seu trabalho o obriga a viver nalguma cidade mais pequena, e especialmente se precisa de atrair o respeito das pessoas vulgares, o caso, por exemplo, do médico ou do advogado, pode durante toda a vida ser constrangido a ocultar os seus verdadeiros gostos e opiniões à maior parte das pessoas com quem diariamente convive.

A opinião pública é sempre mais tirânica para aqueles que a temem verdadeiramente do que para os que se lhe mostram indiferentes. Um cão ladra com mais força e morde mais facilmente quando as pessoas se assustam do que quando manifestam indiferença, e a sociedade humana tem qualquer coisa que se assemelha. Se vos mostrais assustados, dais-lhes a esperança de uma boa caçada, ao passo que se vos mostrais indiferentes eles principiam a duvidar do seu próprio poder e deixar-vos-ão tranquilo.”

“Pouco a pouco torna-se possível adquirir a reputação do excêntrico ao qual são permitidas coisas que nos outros homens seriam consideradas imperdoáveis.”

“É como a teoria que diz que se descobre sempre o assassínio. Evidentemente, todos os assassínios que conhecemos foram descobertos, mas quem pode saber quantos houve de que nunca se ouviu falar? Da mesma forma, todos os homens de génio de que ouvimos falar triunfaram das circunstâncias adversas, mas isso não é razão para supor que não tenha havido muitos outros que sucumbissem na juventude.”

Os argumentos dos pais não devem ser uma razão suficiente para abandonar a tentativa. Se, a despeito de tudo o que eles digam, realizar esse intento, eles mudarão depressa de ideias, muito mais depressa, de facto, do que vós e eles supunham.”

“Penso que, em geral, à parte a opinião dos peritos, dispensa-se demasiado respeito às opiniões dos outros, tanto nas grandes questões como nas pequenas. Deve-se em regra respeitar a opinião pública na medida em que é necessário evitar a miséria ou a prisão, mas tudo o que ultrapasse esses limites é uma submissão voluntária a uma tirania inútil e é susceptível de embaraçar a felicidade de muitas formas.”

“A melhor maneira de aumentar a tolerância é multiplicar o número de indivíduos que gozem de verdadeira felicidade e cujo principal prazer não seja causar sofrimentos aos outros homens seus irmãos.”
Bertrand Russel

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

O insustentável peso da morte


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sábado, 7 de agosto de 2010

"A Conquista da Felicidade", parte 1.8 (A Mania da Perseguição)


“as pessoas experientes desconfiam da veracidade das histórias dos que se dizem maltratados por toda a gente; pela sua falta de simpatia, esses infelizes tendem a confirmar a opinião de que o mundo inteiro está contra eles. De facto, a sua perturbação torna-os de difícil tratamento, pois tanto se irritam com a simpatia como com a falta de simpatia.”

“Uma das formas mais universais de irracionalidade é a atitude tomada por quase toda a gente em relação às conversas maldizentes. Muito poucas pessoas sabem resistir à tentação de dizer mal dos seus conhecimentos e mesmo, se a ocasião se proporciona, dos seus amigos; no entanto, quando sabem que alguma coisa foi dita em seu desabono, enchem-se de espanto e indignação. Certamente nunca lhes ocorreu ao espírito que da mesma forma que dizem mal de não importa quem, alguém possa dizer mal deles. (…) Nunca nos ocorre que não devemos exigir que os outros pensem melhor do que nós pensamos a respeito deles e não nos ocorre porque aos nossos olhos os méritos que temos são grandes e evidentes ao passo que os dos outros, se na realidade existem, só são reconhecidos com certa benevolência.”

“Se a todos fosse dado o poder mágico de ler nos pensamentos dos outros, suponho que o primeiro resultado seria o desaparecimento de toda a amizade; o segundo, no entanto, podia ser excelente, pois um mundo sem amigos tornar-se-ia tão intolerável que talvez aprendêssemos a amar-nos uns aos outros sem necessidade de um véu de ilusão a ocultar que mutuamente não nos consideramos absolutamente perfeitos.”

“Estes exemplos sugerem quatro princípios gerais que, se a sua verdade for suficientemente compreendida, podem ser remédio apropriado para a mania da perseguição: 1.º - lembrai-vos que os vossos desígnios não são sempre tão altruístas como vos parecem; 2.º - não avalieis exageradamente os vossos próprios méritos; 3.º - não espereis que os outros se interessem tanto por vós como vós próprios; 4.º - não imagineis que a maior parte das pessoas pense suficientemente em vós para ter algum especial desejo em vos perseguir.”

“A imensa maioria das acções das pessoas, mesmo as mais nobres, tem razões egocêntricas, e não lamentamos o facto, pois se fosse doutra forma a raça humana não poderia sobreviver.”

“Em todas as nossas relações com os outros, especialmente com aqueles que nos são mais próximos e mais queridos, é importante, e nem sempre fácil, lembrarmo-nos que eles vêem a vida do seu ponto de vista pessoal e em relação ao seu próprio Eu e não do nosso ponto de vista e em relação ao nosso Eu.”
Bertrand Russel

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

"A Conquista da Felicidade", parte 1.7 (O Sentimento de Culpa)


“Hoje sabemos que em cada uma das partes do mundo a consciência impõe actos diferentes e que, de uma maneira geral, em toda a parte, está de acordo com os costumes dos diferentes povos.”

“Quais são os actos realmente nocivos que tentam o homem médio? Práticas pouco honestas nos negócios mas de forma que não sejam punidas pela lei; rudeza para com os empregados, crueldade para com a mulher e os filhos, malevolência a respeito dos rivais, ferocidade nos conflitos políticos – tais são os pecados realmente nocivos mais frequentes entre os cidadãos respeitáveis e respeitados.
Por meio desses pecados um homem espalha a miséria em sua volta e contribui para destruir a civilização.”

“Na verdade, o sentimento de culpa está longe de fazer a vida feliz. Pelo contrário, torna o homem infeliz e dá-lhe um sentimento de inferioridade. Sentindo-se infeliz o homem está inclinado a ter a respeito dos outros exigências que são excessivas e que o impedem de encontrar a felicidade nas suas relações pessoais. Sentindo-se inferior, terá má vontade para aqueles que lhe parecem superiores. Para ele a admiração é difícil e a inveja é fácil.”

“No amor apaixonado, na feição dos pais, na amizade, na benevolência, na devoção às ciências ou às artes, nada há que a razão deseje diminuir. O homem racional, quando sente essas emoções, ficará contente por as sentir e nada deve fazer para diminuir a sua intensidade, pois todas elas fazem parte da verdadeira vida, isto é, da vida cujo objectivo é a felicidade, a própria e a dos outros.”

“Nada é tão deprimente como estar fechado em si mesmo, nada é tão consolador como ter a sua atenção e a sua energia dirigidas para o mundo exterior.”

“A felicidade que exige intoxicação de não importa que espécie, é falsa e não dá qualquer satisfação. A felicidade que satisfaz verdadeiramente é acompanhada pelo completo exercício das nossas faculdades e pela compreensão plena do mundo em que vivemos.”
Bertrand Russel

domingo, 1 de agosto de 2010

Contraluz


Os sinais que tanto tenho falado neste blog, estão lá no filme.
O destino, moldado por nós próprios.
Os caminhos estão lá, os símbolos também.
É só uma questão de estar atento e querer e saber segui-los...
Ter a noção de que somos úteis, em qualquer circunstância, em momentos mais ou menos esperados.
(...até lá, VIVE em contraluz...)