quarta-feira, 19 de maio de 2010

"A Conquista da Felicidade", parte 1.2 (A Infelicidade Byroniana)


"O sábio será tão feliz quanto as circunstâncias lho permitam, e se achar dolorosa a contemplação de um determinado ponto do universo, poderá contemplar qualquer outro. É isto o que eu procuro provar no presente capítulo. Desejo convencer o leitor de que, seja qual for o argumento, a razão não é um obstáculo à felicidade."

"(...) precisamos distinguir entre um estado de alma e a sua expressão intelectual. Não se discute com um estado de alma; este pode ser modificado por qualquer acontecimento feliz, ou por alguma mudança no nosso estado físico, mas nunca por um argumento."

"O animal humano, como os outros animais, está adaptado para uma certa luta pela vida e quando, graças à sua riqueza, o homo sapiens pode satisfazer todos os desejos sem esforço, a simples ausência do esforço na sua vida afasta dele um elemento essencial de felicidade. O homem que adquire facilmente as coisas pelas quais sente apenas um desejo moderado, conclui que a realização do desejo não dá felicidade."

"Não pode haver valor no todo a não ser que haja valor nas partes. A vida não pode ser concebida como um melodrama em que o herói e a heroína atravessem desgraças incríveis de que são compensados por um final feliz."

"Bendito seja Deus, a mais humilde das
Suas criaturas
Pode ostentar uma alma com duas faces:
Uma para enfrentar o mundo,
A outra para mostrar à mulher amada!"

"De maneira nenhuma perdi a fé no amor, mas o género de amor em que acredito não é aquele que os vitorianos admiravam; é intrépido e vigilante, permite ao mesmo tempo o conhecimento do bem e não implica o esquecimento do mal, nem pretende ser sagrado ou santificado. A atribuição destas qualidades ao amor, tal como era então admirado, resultava do tabu sexual. O vitoriano estava profundamente convencido de que era imoral tudo quanto se relacionasse com o sexo e precisava de empregar adjectivos exagerados para o amor que podia aprovar. Havia mais desejo sexual do que há agora e isso sem dúvida lavava as pessoas a exagerarem a importância da sexualidade, tal como os ascetas sempre o fizeram.
Vivemos presentemente um período bastante confuso e muitas pessoas abandonaram já as ideias antigas sem terem ainda adquirido outras novas. Isso causa-lhes várias perturbações, e como o seu inconsciente continua fiel aos velhor conceitos, as perturbações, quando se produzem, geram desespero, remorsos e cinismo."

"Não é fácil explicar em poucas palavras as razões porque se aprecia o amor; no entanto vou tentar fazê-lo. Em primeiro lugar o amor deve ser apreciado - e esta razão, embora não seja a de maior importância, é essencial a todo o resto - como sendo em si mesmo uma fonte de prazer.
Oh amor! Muito te injuriam
Os que dizem que a tua doçura é fel,
Quando o teu rico fruto é tal
Que nada pode ser mais doce.
O amor anónimo destas linhas não procurava uma solução para o ateísmo, nem uma chave para os enigmas do universo; procurava apenas a sua satisfação íntima. E não somente o amor é uma fonte de prazer, mas também a sua ausência é origem de sofrimento. Em segundo lugar, o amor deve ser apreciado porque dá realce aos melhores prazeres da vida, tais como o ouvir música, o assistir ao nascer do sol nas montanhas, o ver a luz do luar espelhada nas águas. Um homem que nunca gozou a contemplação das coisas belas na companhia da mulher amada, nunca sentiu plenamente o poder mágico que dessas coisas se desprende. Além do mais, o amor pode quebrar a dura concha do Eu, pois é uma forma de cooperação biológica, na qual as emoções de cada um são necessárias à satisfação dos propósitos instintivos do outro."

"O verdadeiro amor é uma chama eterna
No espírito para sempre ardente,
Nunca adoece, nunca morre, nunca esfria,
Por si próprio nunca se desvia."

"A todos os jovens de talento que divagam sobre o tema de que não há nada a fazer neste mundo, eu diria: "Não tente escrever, pelo contrário, procure não escrever. Vá correr o mundo. Faça-se pirata, rei no Bornéu, trabalhador na Rússia Soviética; consagre-se a uma existência em que a satisfação das mais elementares necessidades físicas dê emprego a quase todas as energias."
Bertrand Russel

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