domingo, 9 de maio de 2010

"A Conquista da Felicidade", parte 1.1 (O que torna as pessoas infelizes?)



“Se o leitor é infeliz, está naturalmente preparado para admitir que a sua infelicidade não é uma excepção. Se é feliz, pergunte a si mesmo quantos dos seus amigos o são.”

“Liberte-se do seu próprio eu e deixe-se penetrar sucessivamente pela personalidade das pessoas que o rodeiam. Descobrirá que cada uma dessas multidões diferentes tem as suas inquietações próprias. Na azáfama da hora do trabalho, verá ansiedade, concentração excessiva, dispepsia, falta de interesse por tudo que seja alheio à sua luta, incapacidade para se divertir, ignorância a respeito dos seus semelhantes. Em qualquer estrada num fim-de-semana, verá homens e mulheres que gozam vida confortável, alguns mesmo bastante ricos, empenhados na perseguição do prazer. (…) todos os ocupantes de todos os automóveis vão absorvidos pelo desejo de ultrapassar o carro que vai à frente, mas não o podem fazer por causa da multidão; se o seu pensamento se evade dessa preocupação, o que pode suceder àqueles que não vão ao volante, um aborrecimento irreprimível apodera-se logo deles e marca nas suas feições o habitual descontentamento.”

“Observe agora as pessoas num local de diversões nocturnas. (…) Julga-se geralmente que a bebida e a intimidade conduzem à alegria; assim, as pessoas embebedam-se rapidamente e procuram não reparar quanto os seus companheiros lhes desagradam. (…) Tudo o que o álcool faz por eles é libertar-lhes o sentimento de culpa, que a razão abafa nos momentos normais.”

“O meu propósito é sugerir um remédio para a vulgar infelicidade do dia-a-dia, de que sofre a maior parte dos habitantes dos países civilizados, e que, não tendo verdadeira causa exterior que a determine, se torna ainda mais difícil de suportar por parecer inevitável. Creio que esta infelicidade é devida em grande parte a erradas ideias sobre o Mendo, erradas éticas, errados hábitos de vida que provocam a destruição desse gosto natural e desse apetite pelas coisas realizáveis de que depende afinal toda a felicidade, tanto dos homens como dos animais.”

Quando a vaidade é levada a um tal ponto, não há interesse sincero noutra pessoa e por consequência não pode haver real satisfação no amor.”

“O amor do poder, tal como a vaidade, é elemento importante na natureza normal do homem e assim deve ser compreendido; torna-se deplorável somente quando é excessivo ou está associado a uma percepção insuficiente da realidade.”

“As causas psicológicas da infelicidade, é claro, são muitas e variadas, mas todas têm alguma coisa de comum. O homem infeliz típico é o que, tendo sido privado na juventude dalguma satisfação normal, acaba por apreciar essa satisfação mais do que qualquer outra, e imprime assim à sua vida uma direcção unilateral, obstinando-se na sua realização sem tomar interesse pelas actividades a ela ligadas. Há, porém, outro tipo, muito comum nos nossos dias, o do homem que se sente tão profundamente descontente, que não procura nenhuma satisfação, mas sim a distracção ou o esquecimento. Torna-se, então, um devoto do “prazer”. Isto quer dizer que procura tornar a vida suportável vivendo-a menos.”

“Os homens que são infelizes, como os homens que dormem mal, mostram-se sempre orgulhosos por esse facto.”

“Suponho que muito poucos homens recusariam deliberadamente a felicidade se vissem um meio de a conseguir.”
Bertrand Russel

1 comentário:

Paulo Dias disse...

foi um grande senhor...