terça-feira, 24 de agosto de 2010

Emotional Rescue


“A paixão era a maior desgraça para o homem inteligente. Um artista que se apaixona está perdido; o amor introduzia-lhe na vida uma tal quantidade de cuidados, de preocupações, de renúncias, que todo o trabalho, todo o pensamento se torna impossível. Vem o ciúme, a exaltação fictícia, a renovação incessante do desejo, a preguiça de languidez, as subserviências da criatura; o carácter efemina-se, o cérebro amolece, a concepção retrai-se e o que era ontem uma força na sociedade é hoje um clube de bordel. O artista deve eximir-se do amor, como o mais humilhante tirano. Amar uma mulher é pôr todas as suas forças da vida ao serviço… de um órgão! É como um glutão: como o glutão, não pensa, não vive, não trabalha, não se move, senão para o estômago. O amante não existe senão para servir, obedecer ao coração, para lhe dar um nome decente. Eu dei aos artistas do meu tempo uma grande lição. Suprimi o amor. Desta porta para dentro, nunca entrou uma mulher; uma mulher, isto é, um conjunto de caprichos, de fantasias, de nervos, de sensibilidades, de tiranias, de altercações, de volubilidades. Mas, como a Natureza é exigente, e o cérebro precisa estar desembaraçado, tomei uma fêmea.”

Eça de Queirós, in A Tragédia da Rua das Flores

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