quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

"O mundo que estamos a criar"


"O que transpira no actual discurso governamental é não só indiferença face ao empobrecimento generalizado dos portugueses, como a ideia implícita de que esse empobrecimento é moralmente bom, "purifica", regenera. Salazar pensava assim, que a pobreza era uma virtude e muitos dos nossos governantes como acham que tudo o que a mão do Estado toca é por natureza impuro, aconselham dieta aos magros, como se a mortificação a que eles presidem fosse um castigo divino executado pela troika e seus mandantes.

Passos Coelho retirou 25% do poder de compra a centenas de milhares de portugueses, que estão longe de ser mais do que remediados, na melhor das hipóteses, e não teve para com eles uma palavra sequer. Bem pelo contrário, apontou-os no dia seguinte como priveligiados, e como alvo para todos os trabalhadores do sector privado. Nem o Ministro das Finanças nem o Ministro da Economia são capazes de incorporar no seu discurso algo que revele qualquer preocupação social pelo efeitos das medidas que tomam. Bem pelo contrário, aparece desprezo e um certo revanchismo social, seja por ignorância do que é o País, seja por razões ideológicas. O modo como se trata da questão do desemprego, é pelo menos, chocante na sua abstração. Para eles, estar desempregado é uma pura abstração, um número, uma estatística, infeliz por cento, mas nada mais.

(...) Ou será que alguém pensa que um banqueiro, desses que influenciaram e patrocinaram a política de todos os nossos governos, tem menos culpas do que um motorista da Carris? É que parece que sim." Pacheco Pereira, in Sábado

Este texto foi escrito entre Novembro e Dezembro de 2011 (não posso precisar a data), na crónica semana "A lagartixa nunca chegará a jacaré". Para além dela evidenciar a austeridade que todos estamos a ser alvo (raios partam esta palavra!), ela sustenta a falta de sensibilidade do actual Governo na aplicação das medidas: é a ferro e fogo.
Serve esta mensagem para recordar daqui a uns tempos o que passamos.

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