sexta-feira, 16 de julho de 2010

O Altruísmo


No passado mês de Março, assisti a uma conferência do monge budista Matthieu Ricard no Porto (ver http://irresistiblegrasp.blogspot.com/2010/05/matthieu-ricard-o-homem-mais-feliz-do.html). A temática desta sessão foi o altruísmo. Ao longo daquelas horas, consegui captar algumas ideias do “homem mais feliz do mundo” e, com essas mesmas ideias, criar os meus próprios pensamentos e reflexões. Decidi não partilhá-las naquele dia e guardá-las para um momento mais assertivo. Esta semana tenho andado a pensar numa atitude egoísta duma pessoa que “magoou” psicologicamente meia dúzia de conhecidos e fisicamente dezenas de desconhecidos. Quando não se age com o coração, todos os actos são artificiais e a falta de espírito reflecte-se mais cedo ou mais tarde. Eis…

É possível construir uma sociedade mais altruísta? Sim, para isso:
1) é preciso evitar os comportamentos egoístas;
2) é preciso cultivar o altruísmo em nós;
3) é preciso passar duma transformação pessoal para uma transformação social e cultural.
É também essencial perceber o que é, verdadeiramente, o altruísmo, já que há uma espécie de teoria de egoísmo universal, “provado” pela economia, pela psicologia, pela “teoria da evolução”.

A Teoria da Evolução e o Altruísmo - Factores de cooperação
O único fim da selecção natural era a propagação de genes e o altruísmo só existiria se fosse com o objectivo de facilitar essa propagação. Esta teoria não atribui um sentido verdadeiro ao altruísmo. No entanto, ao longo do tempo, observou-se que determinados comportamentos como a violência doméstica e a escravatura passaram a ser condenados, o que prova que se evoluiu mais depressa culturalmente do que geneticamente. Se se comparar uma sociedade altruísta e uma sociedade egoísta, observa-se que a sociedade egoísta elimina-se por si só: os elementos que a compõem vão estar sempre a competir uns com os outros. Por outro lado, a sociedade altruísta partilha e dessa forma cresce por si só, evolui.

Altruísmo
É a aspiração para agir de forma a que todas as pessoas sejam felizes.
Como estender o altruísmo às pessoas que se comportam contra nós, às pessoas de quem não gostamos?
Claro que ninguém acorda de manhã e deseja o mal aos outros; no entanto, são os nossos comportamentos que provocam esse sofrimento nos outros. E a compaixão que pode marcar a diferença.
Fundamentalmente, o altruísmo deseja a felicidade do outro e pretende eliminar todas as formas de sofrimento, por isso o altruísmo pode ser aplicado a quem nos fez mal, ao nosso “adversário”.
Por exemplo, num ditador, o altruísmo poderá actuar na compreensão e na eliminação das causas internas que o fez agir com maldade para com outras pessoas. Pretende-se, assim, diminuir o máximo possível a dor, o sofrimento, tal como a medicina. O altruísmo não é sinal de fraqueza, pelo contrário, é mostrar força para auxiliar alguém.
Quanto às emoções perturbadoras, como o ódio e a ignorância, podem usar-se antídotos. A ignorância leva a uma distorção da realidade, que surge da nossa tendência para solidificar as nossas ideias da sociedade.
Será possível e necessário cultivar o altruísmo e a compaixão incondicional? Sim, mas exige treino e esforço, e esse cultivar não é apenas durante 20 minutos diários, como fazer exercício físico, tem de ser um esforço intemporal. Trata-se de o gerar na nossa mente; o que nós podemos fazer é sentir o amor incondicional e mantê-lo durante algum tempo; quando começa a declinar, é preciso voltar a estimulá-lo. A este processo de familiarização podemos chamar meditação. E a meditação está associada à neuroplasticidade, ou seja, à capacidade que o cérebro tem de se adaptar a novas circunstâncias, emoções, situações.
Há comportamentos de falso altruísmo, por exemplo quando temos determinada acção para sermos recompensados ou reconhecidos socialmente, ou atitudes que só aparecem por sentimento de culpa.
É normal que o altruísmo cause um calor interno. Mas o mais importante é o resultado desse altruísmo: se conseguirmos alcançar harmonia, tanto melhor, desde que o objectivo seja cumprido, o de ajudar.

O altruísmo deixou de ser um luxo; desde que o egoísmo passou a ser visto com preconceito, o altruísmo passou a ser uma necessidade de todos nós.
Ao longo do tempo, preocupações com a economia predominaram e predominam sobre as preocupações, por exemplo, ecológicas. As preocupações a médio-prazo passaram a ser a carreira, a família, … e as preocupações a longo-prazo passaram a ser a ecologia.
O mais difícil é conciliar estas três preocupações, do ponto de vista prático e empírico. O fio condutor que pode unir estas três preocupações é o altruísmo.


"I know", In Eistence, Beautiful World

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