terça-feira, 29 de junho de 2010

O Português


“O estado que melhor convém ao português é o da revolução passiva. Não age, não se adapta, mesmo ao que parece fazer parte das suas convicções mais profundas. Entre o delírio e a melancolia, entre a exigência e a queixa, prefere esperar a sua vez e congratular-se com os acontecimentos emblemáticos duma era que nunca existiu ou de que nunca virá a aproveitar-se.

O português não é conflituoso, é desordeiro. O conflito está na mente; a desordem está no coração. O legislador tem que compreender que isso é uma dificuldade. O lado lúdico da vida, como acontece com as crianças, é mais apetecível do que o lado filosófico. Como os gregos, o português não aprende com o passado, não lhe dedica atenção de maior; prefere seguir o impulso da sua curiosidade que o leva a algum lugar que não pode coincidir com os seus desejos.”

Agustina Bessa-Luís, in “Fama e Segredo na História de Portugal”

1 comentário:

Artur Mascarenhas disse...

Muito bem. Ainda à espera de D Sebastião...